quarta-feira, 18 de setembro de 2019

COMO FAZER UM TRANSFORMADOR DE ÁUDIO EM CASA

Uma saída bem interessante é construir um transformador de áudio em casa, usando componentes simples. Para isso você vai precisar de um bastão de ferrite de 10 milímetros de diâmetro,  fio de cobre esmaltado 0,25 milímetros (23AWG) e fio de cobre esmaltado  0,1 milímetros (27AWG).



Como Fazer um Transformador de Áudio em Casa
Circuito do Transformador de Áudio Caseiro

O transformador de áudio tem uma construção simples, porém o funcionamento é idêntico aos transformadores de núcleo de ferro que são vendidos comercialmente.  Os enrolamentos do transformador são feitos da seguinte forma, o secundário são 50 voltas de fio de cobre esmaltado de 0,25 milímetros em torno de uma pequena barra de ferrite de 10 milímetros de diâmetro, tipo essas barras de antena AM tubular, o tamanho e o comprimento da barra não importa, é apenas o número de voltas de fio que determina o transformador.


Transformador de áudio caseiro
Transformador de áudio caseiro

Já o enrolamento primário do transformador de áudio é feito enrolando 300 voltas de fio de cobre esmaltado de 0,1 milímetros sobre o secundário, enrole mais 300 voltas e isso completa o transformador fazendo uma tomada central (center tape).
Este transformador não é critico, você deve apenas seguir as instruções e enrolar o primário bem em cima do secundário, a união da tomada central e qual são os fios de entrada do primário não tem qualquer importância. Acredito que esse transformador de áudio funcionará em quase todos os circuitos que você precisar usar um.
Fonte:Blog NOVA ELETRÔNICA

terça-feira, 18 de julho de 2017

Lei Única da Robótica: Os humanos devem florescer


Os seres humanos devem florescer

O autor de ficção científica Isaac Asimov escreveu sobre o controle das máquinas inteligentes que ele vislumbrava para o futuro propondo suas três leis da robótica:


Um robô não pode ferir um ser humano ou, através da inação, permitir que um ser humano venha a ser ferido.
Um robô deve obedecer as ordens que lhe são dadas pelos seres humanos, exceto quando tais ordens entrarem em conflito com a primeira lei.
Um robô deve proteger sua própria existência desde que essa proteção não entre em conflito com a primeira ou a segunda leis.

Agora que a ficção científica está-se tornando realidade, especialistas começam a discutir o assunto e verificar se as três leis ficcionais da robótica seriam adequadas ou suficientes para a robótica real.

Um painel de especialistas reunidos pela Sociedade Real Britânica e pela Academia Britânica sugere que não deve haver três, mas apenas um princípio abrangente para governar as máquinas inteligentes com as quais em breve estaremos convivendo:
Os seres humanos devem florescer.


Pessoas em primeiro lugar

De acordo com a professora Ottoline Leyser, o florescimento humano deve ser a chave para a gestão dos sistemas inteligentes artificiais - sejam incorporados na forma de robôs ou sejam invisíveis programas de computador.

"Este foi o termo que realmente encapsulou o que queríamos dizer. A prosperidade das pessoas e das comunidades precisa ser colocada em primeiro lugar, e pensamos que os princípios de Asimov podem ser subsumidos nele," disse ela.

O relatório defende a criação de um novo organismo que assegure que as máquinas inteligentes sirvam as pessoas, em vez de controlá-las. Os especialistas defendem que um sistema de supervisão democrática é essencial para regulamentar o desenvolvimento dos sistemas de autoaprendizagem e, sem ele, esses sistemas têm potencial para causar grandes danos.

O relatório não emite um alerta de que as máquinas estão para escravizar a humanidade - pelo menos não ainda. Mas quando sistemas que aprendem e tomam decisões de forma independente são usados em casa e em uma variedade de serviços comerciais e públicos, há espaço para que muitas coisas ruins aconteçam, diz o relatório.


Tecnologia ética

Para priorizar os interesses dos seres humanos sobre as máquinas, o desenvolvimento dos chamados sistemas de inteligência artificial não pode ser regido exclusivamente por padrões técnicos. Esses sistemas também precisam ser imbuídos de valores éticos e democráticos, de acordo com Antony Walker, outro membro do painel.

"Há muitos benefícios que emergirão dessas tecnologias, mas o público deve ter a confiança de que esses sistemas estão sendo pensados e governados adequadamente," afirmou Walker.

Quer robôs responsáveis? Comece com humanos responsáveis

Com informações da BBC -  



quarta-feira, 6 de abril de 2016

Inteligência artificial vai nos levar a uma Singularidade Tecnológica?


A derrota do vice-campeão de Go por um programa de computador criado pelo Google causou um frisson na Coreia do Sul, onde o jogo é muito mais popular do que o xadrez.
Quase ao mesmo tempo, uma conferência realizada em Berlim, na Alemanha, reuniu os maiores especialistas do mundo em inteligência artificial para debater a questão que cientistas, futurólogos e preocupados em geral se fazem há décadas: até onde a inteligência artificial pode ir?
Será que os programas de computador realmente se tornarão tão inteligentes quanto o homem? Será que estamos realmente caminhando para a chamada singularidade tecnológica?
A singularidade tecnológica é definida como uma data no futuro quando a inteligência das máquinas supera a nossa própria inteligência e passa a melhorar-se a um ritmo exponencial, não dependendo mais do ser humano






Hardware humano

Danko Nikolic, um neurocientista do Instituto Max Planck de Pesquisas do Cérebro (Alemanha), não se amedrontou de estar diante de uma plateia formada pelos principais pesquisadores da inteligência artificial e fez uma afirmação ousada: "Nunca faremos uma máquina que seja mais inteligente do que nós".

"Você não pode exceder a inteligência humana, nunca. Você pode assintoticamente [que tangencia, mas não coincide] aproximar-se dela, mas você não pode excedê-la," sentenciou o neurocientista.

Nikolic está convencido de que muitos pesquisadores de inteligência artificial que acreditam o contrário estão negligenciando um aspecto importante da inteligência humana: o cérebro não é o único hardware que os seres humanos precisam para serem bons em aprender as coisas.

Para ele, as ferramentas mais básicas para o aprendizado são as instruções contidas em nossos genes, aprimoradas ao longo de bilhões de anos de evolução. Técnicas de aprendizado de máquina podem imitar o cérebro, mas não contam com os elementos mais profundos que nos ajudam a aprender. A única maneira de chegarmos perto de uma mente artificial que aprende tão bem quanto nós é repetir a evolução humana, defende Nikolic.

Inteligência artificial próxima de replicar adaptação biológica

Imprevisível
Mas talvez a singularidade chegue em outras configurações.
Para vários dos especialistas que participaram do debate, a singularidade tecnológica pode ser melhor imaginada como uma aceleração do progresso humano, apesar de ser alimentada por um avanço tecnológico no futuro próximo. Para eles, trata-se de colocar as mentes humanas e a mentes artificiais juntas para resolver problemas do mundo real.
Isto parece já estar acontecendo, conforme demonstrado há poucos dias quando um "físico quântico robótico" fez descobertas inéditas.
Outro ponto levantado pelos especialistas é que, se a singularidade será atingida por inteligências artificiais formadas a partir de grandes quantidades de dados humanos, e se deveremos trabalhar ao lado dessas inteligências sintéticas, então queremos que elas sejam tão diversas quanto nós somos.
Mas, no frigir dos ovos, é difícil prever não apenas qual seria o grande avanço que faria a inteligência artificial dar um salto tecnológico que a levaria à singularidade, como também o que poderia acontecer depois disso, já que, tornando-se as máquinas mais inteligentes do que nós, nossas mentes tornam-se incapazes, ou inadequadas, para imaginar o que elas seriam capazes de fazer.
"A razão pela qual eles chamam de singularidade é que é um ponto além do qual você não consegue enxergar. Uma vez que as máquinas atinjam níveis humanos de inteligência, você não pode começar a imaginar o que vai acontecer," alertou Mehmet Akten, um cientista da computação e artista que estuda inteligência artificial na Universidade de Londres

Com informações da New Scientist - 

Como era o complexo das pirâmides de Gizé, no Egito, em seu auge?

Construído 3 mil anos antes de Cristo, na margem oeste do rio Nilo, o complexo de Gizé homenageia os antepassados da nobreza. Veja como ele era no seu auge


1) Pirâmides das rainhas (conjunto 1)
Estão ao sul da pirâmide de Miquerinos. Especula-se que foram feitas para abrigar as esposas dos faraós. Apesar do nome, apenas a que está no lado leste é uma pirâmide legítima, com as faces lisas. As outras são feitas de degraus



2) Pirâmide de Miquerinos
É a menor das três pirâmides do complexo, com apenas 65 m de altura. Ali está enterrado o faraó Miquerinos, filho de Quéops, que reinou entre 18 e 28 anos. Ficou pronta em 2490 a.C.

3) Pirâmide-satélite
Localizada ao sul da pirâmide de Quéfren, foi feita para armazenar objetos de adoração. Não sobreviveu ao tempo e hoje só sobraram suas fundações

4) Pirâmide de Quéfren
Construída por outro filho de Quéops, foi terminada em 2530 a.C. É a segunda maior de Gizé, com 143,5 m de altura, mas parece ser a mais alta porque foi construída numa área elevada. Quéfren foi o quarto faraó da quarta dinastia e dizem que a esfinge tem suas feições

5) Grande Pirâmide
É a principal construção de Gizé e túmulo de Quéops, segundo faraó da quarta dinastia, que reinou de 2551 a 2528 a.C. Tem 147 m de altura e foi a única das sete maravilhas da Antiguidade a sobreviver até os dias de hoje. Levou 20 anos para ficar pronta

6) Pirâmides das rainhas (conjunto 2)
Não se sabe ao certo quais rainhas estavam aqui. Talvez a mãe de Quéops, já que alguns de seus pertences foram achados perto da construção mais ao norte



7) Esfinge
Além dela, há também um templo logo ao lado, construído da mesma maneira: esculpido em rochas de calcário

8) Templo do Vale de Quéfren
Ligado à pirâmide por uma plataforma, recebeu o corpo desse faraó antes de ele ser enviado ao seu destino final. Tinha a forma de um pátio cercado por 24 pilares organizados no eixo oeste-leste - segundo alguns historiadores, eles representavam as horas do dia

FONTES Livros History: The Definitive Visual Guide, vários autores, How It Works: Book of Incredible History, vários autores, As Grandes Maravilhas do Mundo, de Russell Ash e Richard Bonson; e sites PBS Nova, Smithsonian Magazine, BBC History, iO9, LiveScience, Discovery, NBC News, National Geographic, Harvard Gazette, archeology.org, Derby Telegraph, Brooklyn Museum, Britannica, Huffington Post, The Telegraph, ScienceDaily, Archeology Magazine e History Channel

segunda-feira, 29 de junho de 2015

PAPEL FOTOGRÁFICO

Guia sobre papel fotográfico

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Pesquisa descobre mecanismo para reativação e manutenção da memória


Um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Memória do Instituto do Cérebro da PUCRS dá um importante passo na busca pela reativação e a manutenção da memória.
Coordenada pelo neurocientista Iván Izquierdo, a pesquisa mostra que a entrada de cálcio por canais dependentes do potencial elétrico das células no hipocampo, no cérebro, promove a reconsolidação de memórias. A partir disso o cálcio ativa uma enzima chamada cálcio-calmodulina quinase, que regula a síntese protéica, o que faz com que o efeito da reconsolidação perdure dias ou semanas em vez de poucas horas.
Os experimentos duraram cerca de três anos. Depois de submeter os ratos de laboratório ao procedimento – infundir nos hipocampos antagonistas dos canais por onde o cálcio entra as células, e da enzima mencionada, ficou constatado que eles não desciam de uma plataforma para evitar receber um choque elétrico de pouca intensidade. Segundo Izquierdo, este tipo de aprendizado é um modelo animal da memória humana para atividades comuns, como não atravessar a rua sem olhar para os lados ou não colocar os dedos em uma tomada. “Um tipo de lembrança muito simples e corriqueira, mas relevante para a sobrevivência”, garante Izquierdo.
Nos estudos ficou demonstrado ainda que a enzima estudada regula a troca de proteínas velhas por outras recém sintetizadas nas sinapses utilizadas, controlando a memória e favorecendo sua manutenção.
Segundo Izquierdo, até a conclusão do trabalho não se sabia o que era preciso para prolongar a memória depois de sua reativação. “Agora podemos pensar em formas de melhorar a reconsolidação ou até impedi-la, no caso de lembranças desagradáveis. É um achado acadêmico de proporções enormes”, enfatiza. O próximo passo é tentar aumentar a atividade desta enzima ou buscar mantê-la ativa por períodos mais longos. Sobre o possível aproveitamento para o tratamento em humanos no futuro, ele alerta: “Deve haver muitas drogas com estas ações, mas não sabemos ainda quais são. Encontrar alguma que estimule este processo em seres humanos pode ser como achar uma agulha no palheiro”.
Os resultados foram publicados no dia 1 de abril na PNAS, revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Além de Izquierdo, participaram os pesquisadores Weber Cláudio da Silva, Gabriela Cardoso, Juliana Sartori Bonini e Fernando Benetti, alunos da pós-graduação ou bolsistas pós-doutores do Centro de Memória. Todos os experimentos foram desenvolvidos na PUCRS e seguiram normas do Comitê de Ética em Pesquisa. Os direitos e cuidados com os animais foram respeitados.

terça-feira, 2 de abril de 2013

CÉREBRO - MÁQUINA DE APRENDER




O órgão mais complexo do corpo humano tem capacidade de se moldar ao longo da vida. Nós somos capazes de aprender sempre.
Um menino muito curioso, Jian tem 11 anos e, até o ano passado, não sabia ler, nem escrever. Já tinha passado por várias turmas, até entrar na sala da tia Ana. Em três meses, tudo mudou.
Professora há 15 anos, Ana Presciliana Santos observa atentamente cada aluno. Assim, consegue perceber as dificuldades deles, e sabe como motivar a criançada. Ana ensina brincando.
Ana trabalha há cinco anos em uma escola municipal de uma região pobre de Juiz de Fora, em Minas Gerais. A maneira como a professora ensina mudou completamente há três anos, quando descobriu a neurociência, a ciência que estuda o cérebro.
Desde então, 100% dos alunos que passaram pela sala da tia Ana saíram alfabetizados. “Cada dia você ativa uma área do cérebro, com desenho, com arte, com gráfico, com tudo, e eles ficam mais felizes, aprendem mais, se concentram mais”, diz.
“Não pense que a criança está perdendo tempo porque ela está usando um videogame ou ela está brincando com o violão. Se, na sequência, você mudar para matemática, aquilo que era muito chato, abstrato, incompreensível, passa, quem sabe, a ser interessante, porque o cérebro dela está preparado para focar atenção. Ela está feliz porque fez uma coisa interessante”, afirma Roberto Lent, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nós somos o nosso cérebro. Sem ele, nada no corpo funcionaria. Para falar, andar, comer, se mexer, para tudo o que fazemos, precisamos do cérebro. O órgão pesa muito pouco, não chega a um quilo e meio. Ocupa menos de 2% do corpo, mas consome 20% da nossa energia.
Nosso cérebro custa caro. “Custa caro em termos de energia e em termos de investimento. Entre 500 e 600 calorias mais ou menos, daquelas 2 mil que a gente consome por dia, vão só para manter o cérebro funcionando”, diz Suzana Herculano-Houzel, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“É mentira, completamente mentira, a gente usa o cérebro todo, 100% do cérebro, inclusive enquanto você está dormindo”, afirma Suzana, sobre a história de que só 10% do cérebro são usados. É o nosso órgão mais complexo.
“A única coisa que se compara ao cérebro é o numero de galáxias no universo. A ordem de dimensão é a mesma, são centenas de bilhões de neurônios”, diz Miguel Nicolelis, chefe do departamento de Neurociência da Universidade Duke (EUA).
Assim como as galáxias, o cérebro é difícil de desvendar. É a parte do nosso corpo que menos se deixa revelar. Temos cerca de 86 bilhões de neurônios, que são células especializadas em comunicação.
A atividade cerebral é a troca de informações entre esses neurônios, mas eles não se tocam diretamente. A comunicação se dá através da sinapse, que é a conexão entre neurônios. É a área em que dois neurônios passam informações de um para o outro através de impulsos elétricos.
  
O cérebro nasce com aproximadamente 250 bilhões de sinapses. Aos oito meses, o bebê já fez 600 bilhões de sinapses.  Esse excesso de conexões no começo da vida é apenas matéria-prima.
É como se fosse um bloco de gelo bruto. Ali dentro há todas as possibilidades de escultura, mas, por enquanto, ainda não é nada. Para que este bloco se transforme em uma escultura de fato, todo material que está sobrando tem que ser removido. No cérebro, o que faz essa eliminação é justamente o uso.
Quanto mais a gente usa o nosso cérebro, mais ele vai se definindo. As conexões que a gente não usa vão sendo eliminadas. Aprender muda o cérebro. Somos capazes de modificar a nossa estrutura cerebral até o último dia de nossas vidas. Vários estudos já comprovaram isso.
Um deles foi realizado com taxistas de Londres. Neurocientistas conseguiram comprovar que a massa cinzenta dos motoristas de táxi aumenta depois que eles memorizam as ruas da cidade. Para poder dirigir um desses símbolos de Londres, não basta ser um bom motorista. É preciso estudar muito para conseguir decorar 25 mil ruas.
O duro treinamento leva cerca de três anos e apenas metade dos candidatos consegue passar. Na pesquisa feita pelos neurocientistas ingleses, foi usado um aparelho de ressonância magnética funcional, que mede a mudança no fluxo sanguíneo dentro do cérebro, enquanto os candidatos a taxista jogavam um videogame que recriava as ruas do centro de Londres.
Os pesquisadores iam acompanhando o que acontecia no cérebro deles. A conclusão foi que os aprovados ganharam, além da licença para dirigir táxis, uma massa cinzenta bem maior.
Neurocientistas são unânimes em afirmar que é possível melhorar a capacidade do nosso cérebro sempre, mas... “Fazer só palavra cruzada não é a solução, mas usar e manter o cérebro sendo desafiado continuamente, intelectualmente. É quase como músculo. Se você para de usar o músculo, tem uma atrofia. O cérebro é muito assim”, afirma Nicolelis.

Exercício cerebral constante pode levar à excelência no que se faz


Ana Botafogo e Thiago Soares, dois ícones do balé clássico. Joe Satriani, John Petrucci e Steve Morse, três gênios da guitarra. Além de serem excepcionais no que fazem, o que mais eles têm em comum?
Muita coisa: motivação, foco, atenção e anos e mais anos de prática. Os três guitarristas começaram a tocar ainda muito jovens, por volta de 11, 12 anos de idade, e estudam até hoje. “É um instrumento que você pode estudar a vida inteira, e ainda assim vai encontrar desafios”, afirma Steve Morse, guitarrista do Deep Purple.
A mais famosa primeira bailarina brasileira dança desde criança. “São muitas horas de exercício, são exercícios a vida toda”, afirma Ana. O primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres começou um pouco mais tarde, já adolescente, mas treina muito, todos os dias da semana. “Umas seis horas e meia a oito horas por dia, fora os espetáculos”, diz Thiago.
Tanta dedicação assim explica, em parte, o sucesso deles. “A princípio, qualquer pessoa pode se tornar excelente, extraordinária no que ela faz, desde que ela tenha um interesse extraordinário pelo que ela faz, e a oportunidade de praticar a um nível extraordinário também com aquilo. É suor mesmo”, diz Suzana Herculano-Houzel, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Praticar modifica o  cérebro. Para percorrer uma mata, você tem que construir uma série de trilhas. Depois de algum tempo, você percebe que só vai explorar algumas trilhas e elas se tornam mais largas, viram quase estradas.
As que você não percorre vão desaparecendo e, depois de um tempo, a sua mata está assim. É exatamente o que acontece no nosso cérebro. Quanto mais praticamos, mais fortalecemos o caminho que o nosso cérebro faz para executar uma determinada tarefa. Assim ficará mais fácil achar essa trilha da próxima vez.
Há períodos na vida em que ocorrem mudanças no cérebro com mais intensidade. São as chamadas janelas de oportunidade. A maior delas acontece quando deixamos de engatinhar e começamos a andar.
“A criança, até os dez meses de idade, é quadrúpede. Vai engatinhando, e tem um cérebro que funciona que nem o do cachorro ou de qualquer animal quadrúpede. Olhar como um quadrúpede olharia. Quando a criança começa a ficar em pé, descobre um mundo novo”, afirma o neurocientista Ivan Izquierdo, da PUC/RS.
"Aí nascem novos neurônios, ou crescem conexões entre neurônios da vida bípede e morrem diretamente os neurônios que ele carregava da vida quadrúpede. Depois nunca mais na vida teremos uma perda tão gigantesca como essa”, afirma Izquierdo.
“A aprendizagem é toda mais fácil quando é feita de criança. Quanto mais cedo ela puder aprender, melhor”, diz Paulo Ronca, doutor em Psicologia Educacional da Unicamp. É possível começar a criar memórias de longa duração desde pequeno.
Esse é o objetivo da escola municipal de Guarani, uma cidade mineira de apenas 9 mil habitantes. Os professores usam fundamentos da neurociência, a ciência que estuda o cérebro, para preparar os alunos para a alfabetização.
Quem trouxe a neurociência para algumas escolas de Minas Gerais foi a professora Elvira Souza Lima, coordenadora do projeto Escrita para Todos.  “A criança, nesse período, que é o período do faz de conta, ela cria, mas tem que ser um criar sem avaliação. Então, para a criança que canta todo dia, desenha todo dia, escrever todo dia vai ser absolutamente uma consequência natural”, diz.
Lá, nada é forçado. A ideia é que o aprendizado seja natural, sem imposições, sem críticas. Muito pelo contrário: segundo a neurociência, elogiar é fundamental. “Elogiar é uma motivação extraordinária. Eu acho que precisa ser mais usada, em escolas, em casa”, diz Herculano-Houzel.
“É isso que nós queremos: que nosso aluno tenha, aqui na escola, uma emoção positiva para que ele guarde aquilo na memória e possa usar lá na frente”, afirma Eliana Alvim, supervisora da escola de Guarani.
Não são só emoções positivas que a gente guarda na memória. Acontecimentos negativos também podem ficar para sempre na nossa cabeça. Quem não se lembra onde estava no dia 11 de setembro de 2001? “Todo mundo se lembra onde estava, com quem falou, que horas eram. Foi um momento emocionalmente muito forte, muito intenso.  Então, isso grava melhor”, afirma Izquierdo.
Gravamos até quando não fazemos, até quando não estamos executando a ação. Neurocientistas afirmam: imaginar é quase praticar. “Se eu pedir a você que se imagine andando de bicicleta, é capaz de imaginar-se andando de bicicleta. Se você fizer isso, e eu puder registrar as suas áreas cerebrais, o seu cérebro em funcionamento, as regiões que vão estar ativas são muito parecidas, praticamente as mesmas, que estão ativas quando você, de fato, está andando de bicicleta. Daí se pode concluir que a imaginação é um treinamento.”, explica Robert Lent, neurocientista da UFRJ.
 Ana Botafogo e Thiago Soares sabem bem disso. “Tem coisas que eu não quero me desgastar fisicamente porque eu já fiz muito. Então, faço na memória, ou faço pensando, imaginando que eu estou fazendo. Às vezes, a gente até fala, marcando”, diz Thiago.
Foi imaginando que o jogador de basquete Michael Jordan ganhou um dos títulos dele na NBA, a liga profissional americana. “O mundo inteiro esperava aquela jogada para ganhar o título. Como ele recebeu a bola, e faltavam três segundos, o Michael Jordan ia tentar fazer a cesta. Só que ele pensou anos antes, anos, que se ele tivesse em uma situação dessas, ele ia passar a bola. Porque ia ter alguém sozinho, e foi exatamente o que aconteceu. Três jogadores vieram nele, e tem um jogador que ninguém mais lembra, que é o Carr, que pega a bola e faz a cesta”, diz Miguel Nicolelis, chefe do departamento de Neurociência da Universidade Duke (EUA).
Trabalho de neurocientistas melhora desempenho de estudantes e atletas
Como você lida com os desafios que surgem na sua vida? Foi com essa pergunta na cabeça e a asa delta nas mãos que o recordista mundial em número de voos duplos, o carioca Ruy Marra, se jogou, sem medo, em uma área que tem muito a revelar: a neurociência, a ciência que estuda o cérebro, aplicada ao esporte.
Ruy já voou com 20 mil pessoas e notou que elas reagem de forma diferente na hora da decolagem. Ficou curioso para saber por que todo mundo garante que vai correr na rampa, mas só 5%, de fato, correm para valer.
O instrutor e o aluno dele têm que alcançar 19 quilômetros por hora nessa corridinha antes do voo. Neste momento, o cérebro joga adrenalina no sangue. O coração começa a bater mais rápido. Os pulmões também passam a respirar mais rápido para gerar mais oxigênio. Todos os músculos do corpo se contraem para formar uma espécie de couraça de proteção. Agora, sim, o corpo está preparado para começar o voo.
Ruy quis saber o que se passa na cabeça das pessoas quando estão diante de situações de tensão. Fez uma pesquisa com 2 mil pessoas que voaram com ele durante dez anos. “Eu comecei a encontrar padrões de comportamento sob estresse. Na praia, eu tinha um questionário sobre tônus afetivo, sobre pai e mãe, matriz emocionais parentais, interações sociais”, diz.
Ruy descobriu que a reação de cada um depende do afeto que essa pessoa recebeu na infância. Neurocientistas afirmam que as trocas afetivas entre pais e filhos no começo da vida são fundamentais para a formação do sentimento de segurança nessa criança no futuro.
Ruy, que é neurocientista, estudou muito e percebeu que poderia ajudar atletas a melhorar seu desempenho trabalhando o cérebro deles. “Imagina que você está na área de aquecimento agora. Trabalhando a respiração. Focada nos movimentos. Que você vai executar durante a luta. Imagina as adversárias que você vai enfrentar”, diz à judoca Kelly Rodrigues. Parece um joguinho bobo, mas fez toda a diferença na vida de Kelly.
Moradora da Rocinha, no Rio de Janeiro, a maior favela da América Latina, ela começou a lutar há cinco anos. O início foi bem difícil. “Ficava nervosa, tremendo, e, na hora de lutar, não conseguia fazer, acabava caindo. Quando o Ruy começou a ajudar a gente com respiração, eu comecei a ter mais foco, conseguia escutar mais o técnico, que não conseguia antes”, afirma a judoca.
A Confederação Brasileira de Judô também usa neurociência no treinamento de seus atletas, e teve resultados. O judoca Rafael Silva, o Baby, ganhou bronze em Londres. “O esporte é feito de detalhes. Todo mundo chega muito treinado, mas, na hora, ali, o mental vai definir a luta, quem está melhor preparado mentalmente”, diz. Fazer parte da seleção brasileira em 2016 é o sonho da Kelly, e ela está lutando muito pra conseguir.
Os neurocientistas usam um aparelho chamado biofeedback nos atletas. Um sensor é colocado na orelha dos judocas para medir a frequência cardíaca.  Quando estão nervosos, ansiosos, o batimento fica irregular.
Para evitar isso, os atletas aprendem uma técnica de respiração para treinar o coração, que envia sinais elétricos para o cérebro. São esses sinais que fazem a asa delta do joguinho ganhar altura e velocidade.
O treinamento aumenta a capacidade de concentração e o autocontrole dos judocas.  Explorar a pausa é o que fazem também os alunos de uma escola municipal de Caucaia, cidade que fica na região metropolitana de Fortaleza. “Antes eu fazia as contas sem pensar, agora eu penso como o método do semáforo, que a tia ensinou: tem que parar, pensar e agir”, diz o estudante Alexsandro Garcia Pereira, de 11 anos.
A metodologia do semáforo é simples e muito funcional. “Quando a gente está na aula de história e geografia, eles param para pensar. Não é que nem antes, que eles diziam qualquer resposta para ser engraçado”, afirma a professora Valdenir Cavalcante.
As crianças são incentivadas a fazer uma tarefa de cada vez. Neurocientistas são unânimes em afirmar que ninguém consegue prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo.
“Quando a gente diz que consegue ler e ver televisão ao mesmo tempo, não consegue. Seus olhos podem continuar se movendo na página, mas ou você registra o texto que está ali na frente dos seus olhos, ou você registra o texto que está ouvindo da televisão. As duas coisas ao mesmo tempo nao acontecem”, afirma a neurocientista da UFRJ, Suzana Herculano-Houzel. “O que a gente consegue fazer é alternar entre duas coisas”, diz.
A escola de Caucaia é uma das mais de 600 que trabalham com um método israelense, baseado na neurociência, trazido ao Brasil pela pedagoga Sandra Garcia.  Eles usam jogos de tabuleiro e de raciocínio. 
“Eu aprendi a raciocinar mais, a pensar mais, e melhorei muito nas matérias”, diz a estudante Michele Martins.“Eu não conseguia pensar, fazia tudo ligeiro, aí eu tirava nota baixa. Agora, eu começo a pensar e fazer as contas direito”, afirma o estudante Francisco José Guimarães.
Eles têm apenas uma aula por semana de 50 minutos com os jogos e acabam levando o que aprendem para as outras matérias. “O jogo usa o raciocínio, você encontrar uma outra maneira de resolver uma questão. É o que eu sempre digo para eles, que não existe só uma resposta. Você não pode chegar à resposta só por um caminho. São vários caminhos para chegar a uma mesma resposta”, afirma Valdenir.
Não é só na escola que eles aprendem. Os estudantes ganham os tabuleiros e levam para casa. Alexsandro, aluno do colégio há quatro anos, mora com a família na zona rural de Caucaia. “Eu perdi a vergonha, tenho mais coragem de ler, falo mais com as pessoas. Ler nos ajuda a ser alguém na vida”, diz.

Projeto pioneiro une neurociência à educação em escolas no Brasil


Parece bem difícil fazer a ultrapassagem na Fórmula 1, ainda mais a 300 quilômetros por hora, mas, para os pilotos profissionais, não é. Até porque, em muitos momentos, eles enxergam como se estivesse em “slow motion”.
“Você está atrás de um carro, e a reação é muito rápida. Tem que decidir rápido demais, mas a sua decisão, você acaba enxergando em câmera lenta. Mais ou menos imagina a reação do carro da frente também”, diz o piloto Felipe Massa.
Não são só os pilotos de Fórmula 1 que têm essa sensação. Uma pesquisa feita por neurocientistas de uma universidade da Inglaterra provou isso.
A maioria dos laboratórios de neurociência de Londres fica em volta da Queen Square, a "praça rainha". Foi no Instituto de Neurociência Cognitiva da University College que foi feita uma pesquisa comprovando essa percepção de muitos atletas.
O profissional está tão treinado, tão condicionado para, por exemplo, devolver uma bola em um jogo de tênis ou ultrapassar um carro, no caso de um Piloto de Fórmula 1, que o cérebro dele tem a ilusão de ter mais tempo pra fazer aquela ação. Essa ilusão, claro, é sempre muito bem-vinda.
O responsável pelo estudo é o neurocientista japonês Nobuhiro Hagura, que recebeu a equipe do Jornal da Globo no laboratório dele, na capital inglesa. Hagura diz que, com a ilusão de ver tudo em câmera lenta, fica mais fácil para o piloto profissional fazer a ultrapassagem, já que ele consegue processar com mais detalhes as informações que entram no cérebro dele.
Há exercícios que intensificam ainda mais essa percepção, como o que o piloto Bruno Senna faz antes das corridas. Parece uma brincadeira boba, mas está longe disso.
O piloto usa um óculos criado especialmente para este tipo de treinamento. É como se a lente ficasse piscando. A impressão é a de que estão acendendo e apagando as luzes. “Depois, você tira os óculos, e fica um pouco mais lento. O tempo na sua frente fica um pouco mais lento, porque você está vendo muito mais do que estaria vendo com o óculos. É como se você estivesse fazendo o seu cérebro usar mais a informação que ele tem”, afirma Bruno.
Era exatamente o que fazia o tio de Bruno, Ayrton Senna. Ele conseguia usar, como poucos, as informações que tinha e, sempre, impressionava os mecânicos. “O cara conseguia acertar o carro sentindo no corpo dele as nuances do asfalto, que a telemetria da Honda não conseguia detectar. Então o corpo dele era um transdutor para o cérebro dele que ultrapassava a tecnologia”, diz o neurocientista Miguel Nicolelis, chefe do departamento de neurociência da Universidade Duke (EUA).
Mas quantos Ayrtons existem? Se depender de Nicolelis, cada vez veremos mais brasileiros geniais no que fazem. O neurocientista já está fazendo a parte dele. Em Macaíba, na região metropolitana de Natal, no Rio Grande do Norte, há um projeto pioneiro e ambicioso, que une neurociência à educação: o Campus do Cérebro, criado por Miguel Nicolelis.
A obra começou em 2010 e já impressiona pelo tamanho. É uma mega estrutura no meio de uma zona rural. Não há nada em volta. A construção deve ficar pronta ainda este ano. Será uma escola de tempo integral para 1.500 crianças ao lado de um grande centro de pesquisa de neurociência.
“A ideia é começar no pré-natal. Acompanha-se a mãe e a criança, cria-se um histórico, e aí a gente acompanha essa criança ao nascer até o final do Ensino Médio, agora em uma escola própria do Campus do Cérebro, onde as crianças vão poder ficar em tempo integral, desde o nascimento até o final do Ensino Médio”, afirma Nicolelis.
Não será a primeira experiência da equipe de Nicolelis em sala de aula. Desde 2007, eles são os responsáveis pelo projeto Educação Para Toda Vida, para jovens de dez a 15 anos. Em dois colégios no Rio Grande do Norte e um na Bahia, 1.500 alunos participam de aulas em laboratórios, oficinas de biologia, computação, ciências, robótica. “Em casa, ajudo a minha mãe, Quando quebra alguma coisa, eu a ajudo”, diz o aluno Adrian Everton Barbosa.
As aulas que eles têm são extracurriculares e apenas duas vezes por semana. Os alunos vieram de escolas públicas da região, onde continuam estudando, mas agora têm dois colégios, cada um em um turno.
“Nós fomos a escolas com dificuldades porque a minha proposta era essa mesma. Eu quero ir a um lugar onde ninguém iria, eu quero ir a um lugar onde as crianças jamais receberiam essa atenção”, diz Nicolelis.
O currículo é totalmente prático, inspirado no conhecimento neurocientífico de que o cérebro aprende por associação. “Quando a gente associa à prática, leva isso para o resto da vida”, afirma o professor André Ricardo Bandeira de Carvalho.
Os resultados são animadores. “O que eu estou percebendo desde o início do projeto, é, exatamente, o comprometimento dos alunos”, diz Itamar Bezerra da Nóbrega Neto, professor e coordenador da Oficina de Robótica.
“Eles passaram a ter um maior empenho nos estudos, passaram a ter um maior desejo de aprender”, afirma Dora Maria Montenegro, diretora do instituto. O projeto, que mudou a realidade desses alunos, deve servir de exemplo para outras escolas brasileiras.
“A escola tem que abrir a imaginação dessas crianças para o impossível. Elas têm que sonhar com o impossível, porque mesmo que elas não cheguem lá, o caminho para chegar ao impossível sempre vai dar lucro. Você sempre vai fazer alguma coisa que vale a pena”, diz Nicolelis.




quarta-feira, 27 de março de 2013

Uso excessivo de internet sobrecarrega o cérebro, diz pesquisa


Segundo cientistas, internautas podem perder a habilidade de ler livros.
Outro estudo mostra que receber e-mail produz sensação de ‘bem estar’.

Uma pesquisa revela que as pessoas estão ficando sobrecarregadas com informações de computadores, telefones e e-mails, o que dificulta a concentração em uma única tarefa.
Segundo cientistas da Universidade de New South Wales, na Austrália, usuários que passam muito tempo na internet podem sofrer do “Distúrbio de Déficit de Atenção”. Ou seja, esses internautas podem perder a habilidade de ler livros e assistir peças de teatro, já que estão acostumados com pequenas quantidades de informação, como os tuítes.
Conforme reportagem do jornal britânico “The Sun”, alguns cientistas dizem que o grande número de conversas instantâneas poderia, inclusive, prejudicar uma área do cérebro chamada “córtex pré-frontal”. Segundo o professor John Sweller, a quantidade de informações que recebemos pela internet pode exceder os limites, o que causaria os problemas de memória.
E-mail
Outra pesquisa mostra que alguns funcionários de escritório são viciados no e-mail. De acordo com os cientistas, receber um e-mail produz um hormônio de bem-estar nas pessoas. Além disso, a maioria dos adultos verifica sua caixa de entrada mais de 30 vezes por hora. A pesquisa é destaque da revista “Esquire” de janeiro.

DANDO VIDA A UM CÉREBRO VIRTUAL


Há meses, Henry Markram e equipe vêm alimentando um supercomputador com dados. São quatro caixas pretas do tamanho de máquinas de venda automática rodando em silêncio no porão da Escola Politécnica Federal de Lausanne, Suíça.
As caixas abrigam milhares de microchips, todos programados para atuar como uma célula cerebral. Cabos levam sinais de microchip para microchip, exatamente como fazem os neurônios num cérebro de verdade.
Em 2006, Markram apertou o botão. O Blue Brain, uma teia intricada de quase dez mil neurônios virtuais, crepitou para a vida. Enquanto milhões de sinais corriam pelos cabos, surgia a atividade elétrica parecida com ondas cerebrais verdadeiras.
'Aquele foi um momento incrível', ele falou, comparando a simulação com o que acontece no tecido cerebral real. 'A combinação não era perfeita, mas era boa. Como biólogo, eu fiquei impressionado.'
Após decidir que simular o cérebro inteiro num supercomputador seria possível durante o curso de sua vida, Markram, agora com 50 anos, se determinou a prová-lo.
Não se trata de um feito pequeno. O cérebro contém quase cem bilhões de neurônios organizados em redes com u, total de cem trilhões de conexões, todas disparando descargas elétricas de frações de segundos num caldo de moléculas biológicas complexas em fluxo constante.
Em 2009, Markram concebeu o Projeto Cérebro Humano, uma iniciativa abrangente e polêmica envolvendo mais de 150 instituições do mundo inteiro a qual, ele espera, reunirá os cientistas para realizar seu sonho.
Em janeiro, a União Europeia aumentou as apostas concedendo ao projeto um financiamento de dez anos de até US$ 1,3 bilhão – quantia inédita na neurociência.

Segundo Markram escreveu na revista 'Scientific American', 'uma cópia virtual minuciosa do cérebro humano permitiria a pesquisa em células e circuitos cerebrais ou testes de drogas baseadas em computação'.

Uma ideia igualmente ambiciosa de um 'grande cérebro' está a caminho nos Estados Unidos. O governo Obama deve propor seu próprio projeto, com até US$ 3 bilhões alocados ao longo de uma década para desenvolver tecnologias que rastreiem a atividade elétrica de todos os neurônios no cérebro.
Porém, enquanto muitos obstáculos atrapalham o desenvolvimento do projeto norte-americano, diversos cientistas expressaram sérias reservas em relação à iniciativa de Markram.
Para alguns, não sabemos o bastante sobre o cérebro para simulá-lo num supercomputador. Ainda seguindo a linha de raciocínio dos críticos, mesmo que o conseguíssemos, qual seria o valor de construir um 'cérebro virtual' tão complicado?
Henry Markram liga o fascínio com o cérebro a um trabalho escolar em sua terra natal, a África do Sul. Ele tinha 14 anos e. sentado na biblioteca lendo sobre depressão, ficou estupefato ao descobrir que podem existir 'explicações moleculares para doenças mentais' que poderiam ser tratadas com drogas.
Isso o colocou a caminho da faculdade de medicina, onde ele planejava tornar-se psiquiatra. Porém, enquanto aluno de medicina, percebeu que não sabemos praticamente nada sobre o que as drogas prescritas fazem no cérebro.
Markram raciocinou que, para compreender a doença mental, precisamos primeiro compreender o cérebro. 'Assim, larguei a faculdade de medicina e tracei um plano para fazer neurociência de verdade.'
Ele foi para o Instituto Weizmann de Ciência, em Israel, onde se doutorou, seguido por um período nos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), dos EUA, com bolsa da Fulbright. Esse trabalho o levou a cooperar com Bert Sakmann, neurofisiologista vencedor do Nobel, no Instituto Max Planck, na Alemanha.
O caminho de Markram para o Projeto Cérebro Humano começou com uma experiência para registrar a atividade elétrica de dois neurônios conectados num corte do cérebro de um rato. Ele descobriu que os neurônios precisavam de uma sequência exata de descargas elétricas para mudar a força de suas conexões. O cientista especulou que o mecanismo poderia ser a origem de nossa noção de causalidade.
Esse trabalho já foi citado milhares de vezes. Contudo, enquanto crescia sua reputação, o mesmo se dava com a impaciência.
Os neurônios estão organizados em circuitos interconectados que podem chegar a milhões. Markram percebeu que para obter um progresso real ligando neurônios a comportamentos, experimentar com apenas dois deles por vez 'não bastava'.
Em seu primeiro cargo acadêmico, no Instituto Weizmann de Ciência, de Israel, ele criou um novo experimento extremamente ambicioso que podia gravar dados não apenas de dois neurônios num cérebro de rato, mas de 12.
'Seu equipamento fez a NASA parecer humilde', contou Elise F. Stanley, orientadora de pós-doutorado de Markram no NIH, que o visitou no Weizmann, em 1995. 'Havia tantos equipamentos que não dava nem para ver o tecido cerebral.'
Pouco depois, Markram ficaria sabendo que o filho, Kai, era autista. 'Dá para imaginar como você se sente impotente. Você tem um filho com autismo e, enquanto neurocientista, não sabe o que fazer.'
Ele começou a questionar o efeito de seu trabalho. 'Eu vi que poderia escrever um trabalho de investigação notório por ano, mas e daí? Eu morro e vai haver uma coluna na minha sepultura com uma lista de estudos bonitos.'
Markram decidiu que precisava mudar sua abordagem, vendo que experiências não bastavam.
Após ficar sabendo de um novo supercomputador da IBM, ele se questionou: 'E se cada microchip do supercomputador representasse um neurônio no cérebro?'. Seria possível rodar simulações para realizar experimentos virtuais e, ao contrário das experiências reais, ver cada 'neurônio' em ação. 'Se eu o construísse com a quantidade necessária de detalhes biológicos, ele iria se comportar como um cérebro de verdade.'
Ele mudou o laboratório para a Escola Politécnica Federal de Lausanne, que aceitou comprar o supercomputador de US$ 10 milhões. Armado com dados de 20 mil experimentos, Markram passou a construir o Blue Brain.
Em 2008, sua equipe havia criado um 'fac-símile digital' de uma parte cilíndrica do tecido no córtex do rato. Em 2011, a equipe anunciou ter simulado uma 'fatia virtual' de tecido cerebral com um milhão de neurônios.
Ele fez a proposta do Projeto Cérebro Humano, que levaria o Blue Brain a simular o cérebro humano. Como não conseguiria executá-lo sozinho, Markram pediu ajuda à comunidade científica.
Entretanto, muitos cientistas são extremamente céticos em relação às realizações do Blue Brain.
Para os críticos, embora a equipe tenha conseguido produzir uma simulação computadorizada de algo, não se tratava de um corte do cérebro.
'Era completamente sem sentido, apenas atividade aleatória', disse Alexandre Pouget, neurocientista da Universidade de Genebra, referindo-se às visualizações estonteantes que o grupo de Markram apresenta nas conferências. 'A afirmação segundo a qual ele simulou o córtex de um rato é completamente ridícula.'
E, num momento de competição acirrada por financiamento para pesquisa, alguns cientistas temem que o Projeto Cérebro Humano torne os fundos ainda mais escassos. 'Podem existir efeitos indiretos', reconheceu Andrew Houghton, representante da Comissão Europeia.
Porém, os temores são bastante profundos.
Para alguns pesquisadores, é prematuro investir dinheiro numa simulação enquanto princípios importantes da função cerebral ainda não foram descobertos.
Outros afirmam que o projeto é tão aberto que faz pouco sentido sem critérios de sucesso claramente definidos.
'Não é como o Projeto do Genoma Humano, no qual bastava ler bilhões de pares de bases e pronto', disse Peter Dayan, neurocientista do University College London. 'No caso do cérebro humano, o que seria necessário saber para fabricar uma simulação? Essa é uma questão de pesquisa enorme, e tem a ver com o que é importante saber sobre o cérebro.'
Há quem diga que a controvérsia que cerca o trabalho de Markram esconde a verdadeira questão: como a neurociência deveria cuidar de seus recursos para alcançar uma compreensão real do cérebro?
'Uns dez mil laboratórios espalhados pelo mundo pesquisam questões diferentes sobre o cérebro,' escreveu Koch, do Instituto Allen, na 'Nature'. 'A neurociência é um campo fragmentado.'
Markram concordou. Segundo ele, o Projeto do Cérebro Humano criará um 'princípio unificador' para os cientistas defenderem.
De acordo com o idealizador, pela primeira vez, dados de laboratórios do mundo inteiro estarão num lugar só. Além disso, tentar criar uma simulação servirá para impulsionar campos como a computação e a robótica. Uma divisão inteira do projeto é dedicada à criação de uma nova raça de robôs inteligentes, dotados de microchips 'neuromórficos' projetados como neurônios no cérebro humano.
Segundo Markram, 'o maior sucesso para mim seria se depois de dez anos tivermos um novo modelo para a neurociência, onde todos trabalham juntos. A questão é uma nova fundação'.
'Colocar o problema no horizonte é muito importante. Quando as pessoas falam que o cérebro é tão complicado que nossos netos o resolverão, nós o colocamos além do horizonte.'